Durante quatro anos, a antropóloga Kátia Sento Sé acompanhou o relacionamento, nem sempre pacífico, entre o poder público municipal e os camelôs atuantes no Centro de Niterói. Ao longo do processo de pesquisa, a professora da Universidade Federal Fluminense realizou entrevistas, observou o trabalho dos guardas municipais, analisou como são transmitidas as ordens pela Prefeitura e a abordagem dos policiais aos ambulantes. Kátia também acompanhou o trabalho dos camelôs, visitou suas residências e conseguiu depoimentos reveladores sobre o processo de legalização do trabalho desses vendedores. Como resultado, surge Cidade e conflito: guardas municipais e camelôs (Editora da UFF, 210p.), etnografia que tem lançamento marcado para o dia 8 de abril, às 18h, na Livraria da Travessa do Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Primeiro de Março, nº 66, térreo, Centro, Rio de Janeiro).
No livro, Kátia descreve a aplicação, em âmbito local, de ações concebidas no Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP), editado em 2002 pelo Ministério da Justiça. A autora demonstra como a noção de uso comedido da força – compatível com os direitos civis e humanos – pregada pela lei tornou-se, na prática da Guarda Municipal, puramente força física. Ao longo de 210 páginas, a pesquisadora revela, por exemplo, como a prefeitura de Niterói optou por mobilizar a Guarda Municipal, prioritariamente, para atender queixas de moradores do bairro de Icaraí e dos transeuntes e comerciantes do Centro de Niterói sobre a presença incômoda e crescente de ambulantes da cidade, deixando os demais bairros desprotegidos. Além disso, acompanha o recadastramento dos camelôs que acabou por acirrar o tenso relacionamento entre eles e o poder público. Mais do que descrever e analisar um fato isolado, o livro discute as tensões e conflitos entre os poderes locais e determinados atores sociais no espaço público, fenômeno que se repete em diversas outras cidades brasileiras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário